Resenha: Quarenta Dias





Romance  
Autor(a): Maria Valéria Rezende 
Editora Alfaguara Brasil
Páginas: 248
Classificação: 4/5









Quarenta Dias, um romance diferente de todos que já tinha lido. Esse livro foi um dos obrigatórios da lista do vestibular da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) do ano passado, e um dos repetidos para este ano. E um dos que mais me agradaram.

Alice, uma paraibana, cerca de 60 anos de idade, viúva de um desaparecido político e professora aposentada de línguas. Tem por companheiro um caderno velho e vazio da Barbie cujo suas trezentas folhas estão amareladas pelo tempo. Na mudança de Paraíba para Porto Alegre, sua filha Norinha, e Elizete sua prima, jogaram fora muitas coisas suas (fazendo com que se apegasse ainda mais ao caderno) e o que não consideravam quinquilharias venderiam para conseguir algum dinheiro para talvez dar de pagar a viagem até Porto Alegre. O único motivo pelo qual Alice se mudará e abandonara sua vida, é porque sua filha desejava engravidar, mas não queria deixar de lado a carreira profissional.
Logo nos primeiros dias, Alice recebe a notícia de que a Filha e o marido Umberto vão morar na Europa pelos próximos oito meses por motivos acadêmicos. Depois da notícia, Alice se tranca no apartamento, preto com branco (que mais parecia com um tabuleiro de xadrez), que Norinha havia arrumado para ela, um apartamento que nem de perto dava para se considerar como sua casa, agora ainda mais infeliz e perdida, somente com a companhia do caderno da Barbie e alguns livros para ler.
Após uma semana de exilamento dentro do apartamento, sem falar e ver ninguém, Alice recebe um telefonema de Elizabete, vizinha lá de João Pessoa, pedindo ajuda para encontrar o filho de uma amiga, o Cícero, que fazia um ano que viera morar em Porto Alegre e até então não havia dado notícias. Isso fez com que Alice saísse de seu retiro e começasse sua peregrinação pelas ruas desconhecidas.
E nessa busca por alguém que ela não conhecia e não tinha grandes informações, fica a perambular pelas ruas e periferias da capital gaúcha, o cenário de pobreza nos revela diversas pessoas passando por problemas, mas que de alguma forma estão dispostos a ajudar o próximo. E foi assim andando pelas ruas de Porto Alegre já sem procurar por alguém, simplesmente por já estar perdida, que nossa protagonista dorme em praças, rodoviárias, hospitais, e conhece pessoas de bom coração como a Lola, Arturo, Galo e outros.
Quando Alice por sugestão de Lola, que diz a ela que deveria ligar para alguém ir busca-la, pois a rua não era lugar para uma pessoa como ela, então Alice decide ligar para Elizabete, e falar que tinha ido ver alguns amigos de João Pessoa, mas que estava de volta e havia perdido a anotação com o endereço.

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Quarenta Dias é um livro creio de conteúdo a ser observado e abordado, qualquer coincidência é mera semelhança. Começando com Alice, assim como sua xará inglesa, personagem de Lewis Carroll, na obra de Alice no país das maravilhas (em diversos momentos a protagonista faz referência a ela).
 A Barbie, Alice usa para descrever sua trajetória um caderno antigo cujo capa era da Barbie, sendo muito mais que uma capa, se torna uma ”personagem” passiva, é claro.
“Quarenta dias”, a autora Maria Valéria Rezende, é uma freira e nada mais normal do que inserir em sua obra aspectos que façam menção a religião cristã, e essa expressão é repleta de simbologia nessa religião. No antigo testamento, Noé esperou 40 dias para as águas do dilúvio abaixarem. Ainda nesse livro, Elis esperou 40 dias em jejum enquanto Deus realizava milagres em sua vida. Jesus passou 40 dias no deserto em recolhimento e oração. Esse recolhimento que Jesus viveu são relembrados pelos cristões nos 40 dias que antecedem a Páscoa. 40 dias também são a quantidade de dias que os apóstolos ficaram em comunhão com cristo. E nossa protagonista também passa 40 dias perambulando pelas ruas de Porto Alegre.

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O livro, é dividido em partes (capítulos) não numerados, pertencente a literatura contemporânea. Aborda temas como: solidão, moradores de rua, exclusão social, comportamento humano (loucura, egoísmo...). Uma obra repleta de intertextualidade, com linguagem culta e alguns momentos de linguagem até mesmo chulos, mas que são de fáceis entendimento.  

Adorei a forma com que é escrita. Mas preciso disser que fiquei desapontada com a protagonista no início, por que ela teria de deixar sua vida para se tornar avó? Por que se submeter a viver em um lugar que nada se parece com seu gosto? 

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